11 de março de 2020, há exato 1 ano, a Organização Mundial da Saúde declarou pandemia pela covid-19. Crise sanitária, econômica, política e ética e um contexto de isolamento para setores da sociedade, marcaram esse último ano no Brasil. A partir dos medos e inquietações deste primeiro momento o Movimento Mulheres Negras Decidem e o Instituto Marielle Franco produziram a pesquisa Mulheres Negras Decidem — Para Onde Vamos, onde perguntamos para 245 ativistas negras de todo Brasil como estávamos atuando e qual era futuro que deveria ser construído no mundo pós-pandemia.
Se o balanço da crise é pior do que quando começamos, de 25 de fevereiro de 2020 a 10 de março de 2021, foram 11.202.305 casos acumulados e 270.656 óbitos de acordo com o Ministério da Saúde, não devemos deixar de honrar a atuação das mulheres negras no combate aos efeitos da pandemia.
Mulheres negras lideram a principal força de trabalho na linha frente da covid-19.
Organizam mutirões de coleta e distribuição de alimentos. Nas eleições municipais de 2020 um número histórico de candidaturas de mulheres negras reforçaram a importância das disputas pela institucionalidade. Das práticas de solidariedade aos protestos contra a violência do Estado, o ativismo liderado pelas mulheres negras foram a chave para conter os efeitos mais perversos da pandemia e nos deixar seguros.
As ativistas negras se organizaram, priorizaram e inventaram novas metodologias de ação. Tudo isso, enquanto protagonizam os maiores indicadores de contágio, desemprego, empobrecimento e feminicídio.
Os impactos a longo prazo desta crise no interior das comunidades negras ainda não pode ser definido, mas mais do que nunca as saídas que as ativistas negras estão propondo devem ser amplificadas.
Em maio de 2020 as ativistas consultadas pela pesquisa Mulheres Negras Decidem — Para onde vamos, definiram como prioridade de incidência (1) o fortalecimento da saúde pública, (2) o fortalecimento da Educação Básica, (3) a garantia de direitos de povos tradicionais e (4) a renda básica universal. A agenda liderada pelas mulheres negras permanece atual. E a pergunta — Como fazemos a imaginação social e política das ativistas negras a base da nossa saída da crise? — ainda mais urgente.
O futuro do debate sobre emprego, renda, vacinação, segurança alimentar e violência passa pela nossa capacidade de elevarmos as respostas que estão sendo elaboradas desde o dia 1 da pandemia pelas comunidades diretamente afetadas. Infelizmente, apesar da marca de 1 ano, ainda não estamos perto do fim da pandemia. Seguir a liderança das mulheres negras é mais do que nunca sobre garantir o que é essencial à vida.
Ana Carolina Lourenço
Socióloga com mestrado na UERJ, membro da plataforma nacional Me Representa e co-fundadora do Movimento Mulheres Negras Decidem. Hoje, atua no Programa de Apoios de Resposta Rápida no Fondo de Acción Urgente — América Latina y Caribe. Possui experiência com liderança de projetos focados em fortalecimento democrático em mais de 10 países da América Latina.