Por: Mulheres Negras Decidem

Manifestamos nossa solidariedade e apoio à vereadora de Curitiba e articuladora política do Movimento Mulheres Negras Decidem, Giorgia Prates (PT), em razão dos graves ataques sofridos por ela durante sessão recente na Câmara Municipal. O episódio teve início no debate sobre o projeto de lei que propõe o Dia do CAC (Caçador, Atirador e Colecionador). Giorgia fez um contraponto no qual destacou o genocídio da população negra e periférica, enfatizando que não é possível discutir uma “cultura armamentista” sem uma abordagem responsável, considerando o histórico do país em relação à posse e porte de armas e os riscos que tal “cultura” representa para grupos vulnerabilizados.

Em uma clara tentativa de intimidação e silenciamento, o vereador Eder Borges (PL) respondeu proferindo ataques extremamente graves e desrespeitosos, acusando Giorgia de utilizar indevidamente a pauta racial e disseminar fake news. Em um dos trechos de sua fala, o vereador faz o que se consideraria impensável em um ambiente de debate democrático: valeu-se do exemplo da organização supremacista branca dos EUA Ku Klux Klan (KKK) para tentar fundamentar sua posição.

Ao justificar seu voto, Giorgia manifestou perplexidade e, como defensora incansável dos direitos humanos e do combate ao racismo, afirmou o óbvio: “É inadmissível que um parlamentar faça referência a tal grupo extremista e racista em um ambiente legislativo”. Seguiram-se ataques verbais intensos contra a vereadora, sem qualquer intervenção dos demais vereadores em favor de Giorgia, ou mesmo da Presidência da Casa.

É importante contextualizar que tais agressões são uma constante no país. A violência política contra mulheres, em suas diversidades, é, historicamente, uma das principais barreiras à entrada e permanência de lideranças femininas na política institucional. E não foi a primeira vez que a vereadora sofreu uma agressão dessa natureza, infelizmente.

O movimento Mulheres Negras Decidem acompanha a trajetória e atuação da parlamentar há tempos e presta suporte à Giorgia em outros casos de ataques sistemáticos de adversários políticos, que tentam desacreditá-la e interditar a atuação de sua mandata. Mesmo fazendo parte do Conselho de Ética da Câmara, Giorgia frequentemente é a única voz contrária a acontecimentos infames como o aqui relatado. Sua coragem e compromisso têm custado sua saúde física, mental e emocional, além de significar um grande prejuízo também para as cidadãs e cidadãos curitibanos, que contam com o seu trabalho e de sua equipe. Tamanha é a virulência dos ataques pessoais contra a vereadora Giorgia que ela e sua família já foram obrigadas a mudar de domicílio, em razão de ameaças incitadas, inclusive pelo mesmo vereador.

Diante da gravidade dos fatos, já foi necessária a intervenção direta dos seguranças da Câmara para garantir a integridade física de Giorgia, que atualmente também está inserida no Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos (PPDDH).

Com enorme preocupação, mas inspiradas pelo exemplo de força e humanidade de nossa liderança, nós do Movimento Mulheres Negras Decidem vimos a público demandar das partes competentes, quais sejam: a Presidência da Câmara Municipal de Curitiba, o Partido dos Trabalhadores e o PPDDH, sua máxima atenção e presteza para assegurar a integridade física e emocional da vereadora Giorgia Prates e de sua equipe, que legitimamente representam a vontade popular de milhares de cidadãs e cidadãos.

O pleno exercício dos direitos políticos de mulheres e de pessoas negras é um direito inalienável e que deve ser respeitado, principalmente pelos agentes e instituições públicas.

Giorgia Prates, vereadora, mulher negra, lésbica e de axé não está só!

Nota de solidariedade à vereadora Giorgia Prates (PT), vítima de violência política de gênero e raça